Deus não Tem Netos

Nos últimos anos, a igreja evangélica brasileira tem experimentado um crescimento expressivo. Vimos multiplicar denominações, templos e infelizmente, o nominalismo entre todas correntes protestantes. Mas, um fator também chama a atenção. Uma parte significativa dos filhos criados em lares evangélicos não permanecem na igreja após a saída da casa dos pais. Na verdade, muitos se afastam da fé ainda morando na casa paterna. Em boa parte dos casos esses jovens foram levados desde a mais tenra infância a escola dominical, sempre estiveram envolvidos em muitas atividades cristãs dentro e fora da igreja e mesmo assim abandonaram a fé praticante.
JOVENS SEM CRISTO
Esse fenômeno não é novo e nem está limitado à realidade brasileira. O termo "Deus não tem netos" foi cunhado pela primeira vez pelo evangelista latino americano Luis Palau, que ao visitar o País de Gales nos anos 70 encontrou menos de 1% da população congregando regularmente, exatamente numa nação que foi incendiada pelo poder do evangelho algumas décadas antes, num dos maiores avivamentos registrados na história. Palau constatou que a maior parte dos ingleses eram filhos ou netos de crentes e mesmo assim não mantinham nenhum vínculo com a fé cristã. Ele fez um filme com esse título, destacando que cada geração tem a missão de passar os valores do evangelho de Cristo para a próxima geração.

É um erro acreditarmos que a herança cristã é automaticamente transmitida de pai para filho, pois como observamos, mesmo em países de tradição protestante, todos os anos o número de evangélicos vem reduzindo drasticamente, principalmente entre os mais jovens, onde infelizmente, o secularismo vem crescendo bastante. Hoje, na Europa por exemplo, temos uma congregação onde os mais velhos são predominantes. Fica então a pergunta: O que pode explicar tal fenômeno? Será que as igrejas falharam em transmitir a mensagem cristã aos filhos de seus membros?

Apesar de muitos pais acreditarem que é função da igreja transmitir os princípios da fé cristã aos seus filhos, isso não é verdade. Encontramos referências tanto no antigo testamento quanto no novo (Deuteronômio 6: 6 a 9 e 2ª Timóteo 1: 5) que mostram que é dever dos pais transmitirem os princípios bíblicos aos seus filhos. A igreja tem a missão de capacitar os pais para essa tarefa.

Existem vários fatores que colaboram para essa realidade, sendo que o principal motivo alegado para o abandono da fé pelos filhos de crentes é a falta de referencial cristão na família, pois em casa não vale o ditado: "Faz o que digo, não o que faço!" Os filhos sempre seguirão o exemplo dos pais. A experiencia que as crianças, adolescentes e jovens tem na congregação é insuficiente para inculcar os princípios da fé em seus corações, pois, o tempo passado na igreja é mínimo. Como adverte Provérbios 22: 6, os filhos aprendem a fé "no caminho", ou seja nas experiencias diárias.

Outro fator a ser levado em consideração são as complicações do mundo pós-moderno, onde o tempo em família e em experiencias sociais reais tem perdido espaço para o mundo virtual. Além disso, vivemos numa época onde os valores mais básicos da humanidade, que envolvem família, moral e civilidade sofrem um desgaste cada vez maior e que a relativização de tudo o que é padrão está em alta. Diante dessa torre de babel o mundo caminha para o caos. Nossos filhos são bombardeados por todos os lados com ideias e conceitos que rejeitam tudo que se relaciona a Deus e por isso é fundamental que tenham um alicerce firmado em Cristo.

Como pais e principais educadores dos nossos filhos devemos voltar as raízes da tradição protestante e dessa forma levar a fé cristã de volta ao cotidiano dos nossos lares. Isso deve ser feito através do culto doméstico; das orações em família; das conversas e ações de graças nas refeições; do aconselhamento bíblico dos filhos; da oração e benção antes de dormir; da ida a igreja em família; do envolvimento de pais e filhos em ações de cunho evangelístico e social; etc. Além de tudo, é fundamental que os filhos testemunhem uma fé genuína nos pais, pois senão o cristianismo soará para eles como uma religião hipócrita e demagoga.

O último versículo do antigo testamento (Malaquias 4: 6) é uma promessa maravilhosa de reconciliação entre pais e filhos. Os valores cristãos não devem ser impostos, mas expostos e desde cedo devemos ensinar nossos filhos a ter um relacionamento íntimo e contínuo com o Pai, pois, nos momentos de dúvida e tentação isso fará toda a diferença. Como cristãos, não podemos esquecer que o nosso primeiro campo missionário é a nossa família, pois, do que adianta ganharmos o mundo todo e perdermos as pessoas que mais amamos. 

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